sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Minha Formosa Hering Vintage 1923


Década de 30, era Getúlio. Era eu e ela, formosa Hering Vintage 1923, minha companheira de bolso, alma e espírito. Tudo começou em meu aniversário de 14 anos, para ser mais exato em 14 de abril de 1929, queria um amigo, ganhei uma gaita! Na época não entendi muito bem, hoje, vejo que foi o melhor presente que ganhei. Pouco a pouco fui manuseando-a, tal instrumento estranho e inédito em minha vida, inédito mesmo, tendo o ponto de vista que a gaita chegou no Brasil só em 1923.
Como minha solidão era evidente resolvi então aprender, logo já tirava meus primeiros sopros, mesmo que ainda desconjuntados, eram meus! Minha própria melodia ecoava, achei o máximo! A idéia de que eu poderia controlar o som com meus sopros era como uma luz na minha vida, dei sorte de não nascer asmático, acho que morreria.
O tempo passava ligeiro, e eu aprendia que ao criar um som eu também poderia me encontrar, ou talvez encontrar algo que sempre pareci procurar, na minha cabeça tudo passava a girar de forma alucinante. Caminhei por ruas confusas disperso no pensamento, somente com a voz do meu coração, que se refletia em impulso para a vibração sonora exercida! Era mágica! A mágica da vida, que te faz encontrar tudo o que se quer em algo que tão pouco se espera.
Quando me rebelava era ela que berrava todo furor que eu precisava dizer, quando estava triste era ela que chorava comigo, quando estava feliz era ela que transmitia alegria aos pássaros, crianças, e todo tipo de espécie que parava para ouvir.
Cantei e contei várias histórias sobre minha formosa Hering Vintage 1923, mais quando tudo se acabou, a matéria virou pó, ainda pude ouvi-la cantar nossa canção de adeus, nas mãos de outro, porém com a sonoridade que eu contemplei durante minha vida! Ó gaita querida, tantos foram os sonhos e os momentos, mas seu som pra mim foi único, jamais te esquecerei!


Abraços a quem lê,
Peaga.