segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Que o Cisne seja negro…

 

“O cisne, quando sente ser chegada / a hora que põe termo a sua vida, / música com voz alta e mui sabida / levanta pela praia inabitada. / Deseja ter a vida prolongada / chorando do viver a despedida; / Com grande saudade da partida, / celebra o triste fim desta jornada…” (Camões)

Assistir ao filme Cisne Negro é uma experiência no mínimo incômoda e dolorosa em vários momentos. Somos guiados pela ótica da bailarina Nina, a “garota meiga” no papel da rainha dos cisnes na remontagem de O lago dos cisnes, centro de toda a narrativa dessa obra cinematográfica.

Da dor ao constrangimento, da repressão à morte como expressão de vida, o filme nos angustia com locais sempre fechados, sem visão de horizonte ou amplidão, como a alma da protagonista. Sempre há olhos externos ou internos a vigiar-lhe os passos, sua voz é baixa sua presença, pífia.

O sentir-se viva, o deixar-se levar é o seu desafio, encarnar o Cisne Branco e o Cisne Negro no palco. Viver fora da perfeição que desejava alcançar, deixando que todo o “mal”que havia dentro de si se manifestasse para encantar, seduzir, tocar as almas do público.

Nina se odiava, pois por mais que se esforçasse não se sentia perfeita, roubava objetos de seu símbolo da perfeição, desejava, por mais que se enganasse, seu príncipe. Precisava do verdadeiro amor para retirá-la da forma de cisne.

A agonia da busca da perfeição, a tragédia escrita e anunciada nas primeiras cenas, o canto final de vida, de uma vontade nunca manifestada, que grita na escolha do morrer para que sua vida tivesse significado.

Cisne Negro, eu recomendo.

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