domingo, 12 de outubro de 2008

A Verdade

A verdade

wings "Uma donzela estava um dia sentada à beira de um riacho deixando a água do riacho passar por entre os seus dedos muito brancos, quando sentiu seu anel de diamante ser levado pelas águas. Temendo o castigo do pai, a donzela contou em casa que fora assaltada por um homem no bosque e que ele arrancara o anel de diamante do seu dedo e a deixara desfalecida sobre um canteiro de margarida. O pai e os irmãos da donzela foram atrás do assaltante e encontraram um homem dormindo no bosque, e o mataram, mas não encontraram o anel de diamante. E a donzela disse:

- Agora me lembro, não era um homem, eram dois.

- E o pai e os irmãos da donzela saíramm atrás do segundo homem e o encontraram, e o mataram, mas ele também não tinha o anel. E a donzela disse:

- Então está com o terceiro!

Pois se lembrara que havia um terceiro assaltante. E o pai e os irmãos da donzela saíram no encalço do terceiro assaltante, e o encontraram no bosque. Mas não o mataram, pois estavam fartos de sangue. E trouxeram o homem para a aldeia, e o revistaram e encontraram no seu bolso o anel de diamante da donzela, para espanto dela.

- Foi ele que assaltou a donzela, e arrrancou o anel de seu dedo e a deixou desfalecida - gritaram os aldeões. - Matem-no!

- Esperem! - gritou o homem, no momentoo em que passavam a corda da forca pelo seu pescoço. - Eu não roubei o anel. Foi ela que me deu!

E apontou para a donzela, diante do escândalo de todos.

O homem contou que estava sentado à beira do riacho, pescando, quando a donzela se aproximou dele e pediu um beijo. Ele deu o beijo. Depois a donzela tirara a roupa e pedira que ele a possuísse, pois queria saber o que era o amor. Mas como era um homem honrado, ele resistira, e dissera que a donzela devia ter paciência, pois conheceria o amor do marido no seu leito de núpcias. Então a donzela lhe oferecera o anel, dizendo "Já que meus encantos não o seduzem, este anel comprará o seu amor". E ele sucumbira, pois era pobre, e a necessidade é o algoz da honra.

Todos se viraram contra a donzela e gritaram: "Rameira! Impura! Diaba!" e exigiram seu sacrifício. E o próprio pai da donzela passou a forca para o seu pescoço.

Antes de morrer, a donzela disse para o pescador:

- A sua mentira era maior que a minha. E eles mataram pela minha mentira e vão matar pela sua. Onde está, afinal, a verdade?

O pescador deu de ombros e disse:

- A verdade é que eu achei o anel na barriga de um peixe. Mas quem acreditaria nisso? O pessoal quer violência e sexo, não histórias de pescador."

Luis Fernando Verissimo

Acredite ou não, eu uso esse conto pra começar a falar de História em minhas aulas...

Abração a quem lê

JOTA

P.S.: O texto é dele sim.

5 comentários:

Ribeiro de Castro disse...

Ao meu caro amigo Jota e a Peagá que conheço apenas pelos textos.

o Defenestria (www.defenestria.blogspot.com) recebeu um selo virtual que, por direito e dever, repasso ao JotaPê...

Dê uma olhada e conheçam o selo.

http://defenestria.blogspot.com/2008/10/selo-virtual-prmio-dardos.html

um grande abraço. e parabéns pelo blog.

André Henriques disse...

muito bom o texto, achei interessante mesmo.
abraco!

Eurico Dias disse...

Comentem mal ou comentem bem, mas comentem em meu site...

Fazendo a minha parte!

=D

Artemion disse...

Bom, demorou um pouco mais ando lendo o blog. (Olá Jodenir o/)

Parabéns para os autores. Gostei de muitos textos aqui. Apesar de que ainda não li todos.

Uma mistura de coisas lights e coisas pensativas, para não cansar e nem se tornar fútil =)

Ana Luísa e Sarah disse...

Eita!
esse é daqules textos que dão um tapa na nssa cara! haha
massa!

abraços!
Sarah